A busca do ouro

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A vontade de vencer, leva milhões de investidores à adrenalina diária de ganhar, e perder fortunas em segundos. Como lidar com a instabilidade?

Não importa o tipo de investimento, todos que depositam o primeiro centavo em uma ação da bolsa, um fundo de investimentos ou mesmo no Tesouro Direto, esperam sempre alta rentabilidade. É a vontade de fazer o dinheiro render por si só, e dobrar as economias acumuladas. A busca pelo ouro em tempos digitais trouxe uma nova gama de investimentos que prometem, a curto, médio e longo prazos, a rentabilidade desejada, porém, não sem a adrenalina dos riscos.

É o caso de Richarlison, morador da Mooca-SP, e que recentemente se interessou por uma dessas "minas de ouro" na internet:

"Eu estava no Facebook, e observei um anúncio que falava da alta rentabilidade que uma corretora de opções binárias oferecia. Algo em torno de 80%. Resolvi entrar e experimentar. Eles davam a opção de testar primeiro a plataforma, com dinheiro fictício. Ali, já na plataforma, você escolhe dentre os muitos pares de moeda, aquela que vai subir ou descer o valor em comparação com outra, nas negociações da bolsa, em períodos que podem variar de 1 minuto, até um dia inteiro. Uma destas moedas é o Bitcoin, inclusive. Como estava indo bem nos testes, resolvi depositar dinheiro real, e tentar a sorte com uma quantia pequena, em torno de R$ 100,00. Na primeira tentativa dobrei o valor. Na segunda, dobrei de novo, só que na terceira apliquei todo dinheiro ganho. Perdi tudo. Ali senti o quanto a instabilidade no mercado é algo real, e que surge do nada para te atingir. E nos atinge em cheio, viu!".

O caso de Richarlison não é isolado. Diariamente, as pessoas são atraídas por anúncios na internet que prometem novas oportunidades de investimentos. As opções binárias são uma forma de se investir, porém, não sem o conhecimento necessário sobre o mercado, a economia, as oscilações da Bolsa e outros fatores que, se ignorados, transformam o investimento em jogo de azar. Assim é com todos os investimentos. Principalmente com o Bitcoin.

"A instabilidade é um fator que deve sempre ser levado em conta, por quem deseja investir, principalmente em mecanismos que proporcionem alta rentabilidade a curto prazo. No caso dos Bitcoins, por exemplo, que são a 'sensação do momento', estes possuem uma das mais frequentes instabilidades da economia por vários fatores, oscilando o tempo todo. É preciso mais que 'estômago' para aplicar dinheiro nestas modalidades de investimento, tal como estudo e preparo, para saber o melhor momento e a quantia certa a ser aplicada. Porque depois do prejuízo, ou se espera por uma melhora no mercado, ou absorve as perdas e segue em frente", afirma Marcos Siqueira, economista no Tatuapé-SP.

CONTUDO, O MERCADO DO BITCOIN NÃO PARECE MAIS SEGURO?

De certa forma, não mais que muitos mercados. Hoje, segundo a Blockchain, o Bitcoin esta valendo US$ 9.442,56, mas há alguns meses, chegou a valer US$ 4.000,00. Em 2013, valia US$ 1.000,00 e após certo alvoroço, caiu pela metade deste valor minutos após milhares terem aplicado suas economias na criptomoeda. Segundo o analista do criptomercado, Tone Vays, essa desvalorização é de caráter alto, embora bem conhecida dentre os investidores, e ocorre por questões que às vezes fogem da realidade vivida por outros ativos em outros mercados financeiros.

"Não existe no universo da criptomoeda, por exemplo, só o Bitcoin. Isto já é um fator preocupante à parte, e que mexe com sua oscilação. Atualmente, o BTC ainda domina o mercado de moedas digitais, com um total de 69% de participação, e esta dominância lhe fortalece, tendo em vista a saída de outras moedas como a Altcoin, ou a queda da Ethereum. Mas também o torna instável em razão da vulnerabilidade, e constantes incertezas do cenário internacional, sobre regulação e outras “fragilidades", afirma Vays.

COMO É A INSTABILIDADE DO BITCOIN? O QUE A TORNA TÃO OSCILÁVEL?

A falta de um índice de volatilidade, por exemplo, é algo que ainda atrapalha no mercado de Bitcoin, dadas as constantes incertezas sobre a força da moeda. Em outros ativos e mercados financeiros, o índice de volatilidade aufere o grau de risco que um ativo oferece durante um período de negociação, quando seu valor sobe e desce com muita rapidez e sem controle. Se neste período, se a oscilação for muito rápida e constante, o risco de perda é grande e a volatilidade do ativo é considerada alta.

Com o Bitcoin, em razão da moeda ainda ser recente e muitos países nem terem decidido sobre sua regulação, este índice é inexistente, estando sujeitas as negociações apenas às especulações do mercado. Segundo economistas, outros fatores que provocam a instabilidade da moeda são:

FALHAS DE SEGURANÇA

Em 2014, US$ 473 milhões foram roubados da exchange MtGox. Um ano depois, US$ 5,1 milhões (19 mil bitcoins) foram roubados da exchange Bitstamp. Em 2016, a Bitfinex teve US$ 66 milhões (120 mil bitcoins) roubados de suas carteiras. Em 2017, US$ 32 milhões foram roubados das carteiras da Paraty Multisig Wallet, mas a moeda digital desta vez era a Ethereum. E neste mesmo ano, a sul-coreana YouBit declarou falência após ter 17% de suas criptomoedas roubadas. E como não existe regulação nem autoridade máxima responsável, a quem se deve reclamar?

Este risco de perda e roubo dentro da Blockchain é constante e interfere na oscilação, visto que quanto mais alto, maior o risco de ataques dos hackers. E a cada ataque e novo roubo, menos investidores. Então, quando não é o medo que espanta o dinheiro, são os roubos que jogam o valor da moeda pra baixo - a todo momento.

OPÇÃO À MOEDA EM CIRCULAÇÃO

Por outro lado, por não fazer parte de qualquer sistema financeiro, quando um governo adota uma postura autoritária de impor controle de capital, saída de moeda do país, limites para saques da poupança, etc, a população encontra no Bitcoin uma forma mais tranquila de negociar suas necessidades, e manter a estabilidade em aquisição de produtos e serviços.

É o que ocorreu na Grécia, há 3 anos, quando o Dracma estava completamente desvalorizado e o país se encontrava quebrado. Muita gente viu nos bitcoins a oportunidade de manter um pouco de sua qualidade de vida. O mesmo ocorreu na China, quando, por exemplo, em 2015, as bolsas começaram a cair, e o governo chinês impôs limites ao mercado.

INSEGURANÇA NA REGULAÇÃO DE OUTROS PAÍSES

Existem alguns mitos em torno do Bitcoin, como, por exemplo, o uso da moeda em lavagem de dinheiro e esquemas de corrupção, ou ainda, para o tráfico de drogas e evasão de divisas, principalmente em países onde hoje ela não esteja regulada.

É o caso da Rússia, por exemplo, que em 2014 desconfiou de todas as transações envolvendo a criptomoeda. Por conta disso, apenas 2% da população russa investe na moeda digital e a incerteza quanto a uma regulação a médio ou longo prazos, também afasta investidores, o que é compreensível. Quem quer perder dinheiro?

ACEITAÇÃO POR EMPRESAS E OUTROS MERCADOS

Por outro lado, o fato de que algumas empresas aceitem a moeda em suas transações, faz com que mesmo em países sem regulação, ela se torne uma "tentação" digital, a quem deseja aplicar dinheiro. No Brasil, pouco menos de 200 lojas aceitam ao dinheiro virtual. O mesmo ocorre nos EUA e em alguns países da Europa, onde o uso do Bitcoin é consideravelmente baixo.

Contudo, à medida que mais e mais lojas passam a aceitar a criptomoeda, sua valorização aumenta, com a certeza de que a ampla aceitação em todo mundo seja questão de tempo. No Japão, por exemplo, a criptomoeda já é usada em praticamente todas as transações. Quando a Dell USA passou a aceitar Bitcoin na compra de equipamentos, em 2018, a cotação da moeda chegou a subir 15$ poucos minutos após o anuncio da empresa no Twitter.

Apesar das constantes oscilações, o Bitcoin está despertando o interesse de países e mercados, como uma nova opção de crescimento e, por que não dizer, segurança econômica, em momentos incertos de crise e, assim como ele, vários ativos estimulam a busca do ouro, sobretudo, em tempos digitais. Contudo, um longo caminho há de ser pensado até que seja uma opção acessível a todos. Afinal, em se tratando de investimentos, ganha não apenas quem lucra alto, mas principalmente, quem consegue manter suas economias por mais tempo nas mãos.

Por Alex Silva

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